sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Epifanias urbanas.

Preciso de um banho, mas aquele banho para acordar mesmo, esfregar o sabão até ralar a pele, até o branco ficar vermelho. Andei o dia todo na rua, observando, tateando e pensando nas coisas, nada especifico, somente nas coisas. Tateando os postes, observando aquele vestido da mulher que acabara de sair do banco, pensando naquele homem que dirigia um carro importado e como seria sentir o gosto dos seus lábios tão rosa e pêlos tão claros roçando na minha pele, talvez eu tenha me apaixonado, uma paixão que havia durado 15 minutos. E quando eu dou voltas em alamedas assombrosas e vejo cachorros abandonados, essas coisas feias e tristes que não são importantes se tornam obras de arte para mim, vejo profundidade, essas coisas parecem falar, nada é o que parece. Vi um apê de dois andares, o primeiro andar deve ter sido algum negócio que faliu e alguém morava em cima, era uma varanda tão pequenina, havia uma porta e uma janela gradeada e fechada, havia no canto um vaso com uma planta mal cuidada, uma cadeira de balanço e um cachorro que parecia estar velho. Esteticamento era feio, abandonado, mas me deu uma vontade grande de morar alí, queria aquela simplicidade para mim, aquilo era tão terno. Me imaginei abrindo aquela janela para o vento e a sorte entrar. Apesar de todos os meus problemas, defeitos e sujeiras, alguma coisa me diz que eu levaria bons fluídos para alí.

É tão engraçado. Saío assim pelas ruas, me apaixonando e esquecendo, imaginando e me despedindo, assim mato minha sede. Fico me perguntando: será que isso é normal? Ou eu tenho uma mente esquizóide? No fundo não quero saber a resposta. Essas pequenas aventuras é que me faz uma pequena... uma pequena pensadora, coisa ridícula. Mas de qualquer forma, preciso de um banho. Banho para acordar, banho para voltar ao meu rumo senso-comum sem fim. Banho para lavar pensamentos e cabelos.

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