sábado, 27 de dezembro de 2008

Desligue a música, agora.


''Desligue a música, agora. Seja qual for, desligue. Contemple o momento presente dentro do silêncio mais absoluto. Mesmo fechando todas as janelas, eu sei, é difícil evitar esses ruídos vindos da rua. Os alarmes de automóveis que disparam de repente, as motos com seus escapamentos abertos, algum avião no céu, ou esses rumores desconhecidos que acontecem às vezes dentro das paredes dos apartamentos, principalmente onde habitam as pessoas solitárias. Mas não sinta solidão, não sinta nada: você só tem olhos que olham o momento presente, esteja ele — ou você — onde estiver. E não dói, não há nada que provoque dor nesse olhar."
(Caio Fernando Abreu)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Estação das pipas.


Final de ano, dia frio, sexta-feira, final da tarde, Radiohead, Sessão da tarde... Meus pensamentos estão bagunçados, despenteados, quebrados e algo forte me devora. Os sinos estão cada vez mais altos, esse quarto verde vive mudando de tom, esse controle remoto quebrado me acompanha com essas gavetas quebradas, os estilhaços daquela madrugada continuam no mesmo lugar, o copo de água da noite passada está em cima da escrivaninha, ainda encontro vertigens da insônia no meu travesseiro e de sonos pesados nos meus lençóis, ainda existe papéis de presentes jogados nos cantos, meu batom vermelho de todas as tardes está quase destampado, consigo ver o esplendoroso céu azul e coisas coloridas nele pela fresta da janela de madeira. Uma coisa é certa, a estação das pipas chegou.
Elza del Castilo.

A chuva dentro da manhã.


Acordei no nascer do sol com um belo e suave som de chuva, quase abrir os olhos lacrimejando. Meu pensamento desvairadamente era de coisa bonita. Sentia um frio que ao se misturar com meus lençóis me davam uma agradável preguiça, aquele divino som de pingos quebrando ao chegar no telhado, no chão... E aquele cheiro, ah aquele cheiro de chuva, pós-chuva, trovão, tempestades, relâmpagos, sou viciada. Eu bocejo e suspiro um pouco e percebo que estes são os momentos que realmente significa a mais para mim.
Elza del Castilo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Na rua, na chuva.

Manhã chuvosa, esse é o verdadeiro espírito de dezembro. Saía do colégio, andando pelas calçadas escorregadias de havaianas, pés imundos, calças encharcadas, cabelos bagunçados, cadernos e livros molhados. Meus olhos sorriam, mas não era qualquer tipo de sorriso, era o sorriso de sentir e estar imunda da chuva. Sentei-me na parada de ônibus, ritmando com batidas nos pés, meus olhos acompanhavam a chuva até o fim da rua, às vezes quase dobravam esquinas. Sentia-me uma flor-do-campo - não sei o porquê especificamente uma flor-do-campo... Talvez seja o vago pensamento que tive, uma flor bastante singela e uma fina chuva caindo sobre ela, você verá e pensará em solidão azul, mas depois uma paz irá te devorar e verás uma beleza suave.
Elza del Castilo.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Dia cinza.


Domingo é um dia cinza. O que não sinto chamo de cinza. Muitas vezes as horas são cinzas, as palavras são cinzas, as pessoas são cinzas, as músicas são cinzas. Cinza é uma cor tão vazia, parece que chora, é tão vazia quanto o preto, incrível. Preto não é uma cor, é ausência de cor, e mesmo assim parece mais feliz que o cinza. Hoje não liguei a TV, hoje não abri a janela, hoje não escovei o cabelo, hoje não peguei no meu celular, hoje não tomei Coca, porque quando o dia é cinza... Meu Deus, fico cinza. Logo... Todo movimento é perfeito, todas as coisas belas são escritas, todo pensamento solitário se camufla, cada melodia é doce, porém, nada sinto.
Elza del Castilo.