domingo, 29 de maio de 2022

A aventura e desventura do Eu

 A torre, construída em areia movediça, desabou. Era a chegada a hora. 

Sobrou os escombros, a dor, as memórias, a tristeza, as angústias, os medos. 

Ora... 

Sobrou a mim. Ainda inteira. Ainda firme. Ainda com vida. 

Farei diferente dessa vez: não irei ficar submersa no sofrimento por mais tempo; não entrarei no desespero de reerguer uma outra torre na areia; não procurarei distrações para fugir da realidade que não me aprazível; não alimentarei o meu ego para provar algum coisa a alguém; não vou publicar minhas lamentações; não irei procurar subterfúgios em coisas superficiais. 

Minha estratégia será na racionalidade. Na compreensão e na busca incessante da minha melhor versão.

Estou disposta a construir uma fortaleza. Consistente. Segura. Imponente. Gloriosa. Para muitos, impenetrável. Uma fortaleza de espírito cujo projeto arquitetônico é realizado por dor e amor. 

Nunca será destruída. 

Serei arquiteta, construtora, imperatriz, combatente. Serei tudo na minha fortaleza. 

Disposta a proteger-me e guerrear se preciso for.

Eu, verdadeiramente, estou disposta a construir do zero, colocar cada pedra diariamente e em breve, concluí-la, mas com a consciência de que sempre haverá pequenas reformas, ampliações e mudanças.

Estou comprometida com a minha fortaleza, com o meu espírito e comigo. Apenas resta o meu agradecimento a cada acontecimento que fez ser lapidada para sobreviver. Tornei-me poderosa.


Tudo mudou

Eu recebi um choque da realidade, mas é um choque que não é inédito. 

É algo que se repete. Talvez eu não tenha aprendido a lição, e por isso se repete. 

No entanto, minha reação é diferente. Pela primeira vez eu sinto coragem o suficiente para olhar pra mim, de modo integral, a luz e a sombra de mim. Profundamente, intensamente. 

Percebo a aventura complexa e difícil que é lidar com meu próprio Eu. Quero fazer, agir e pensar diferentemente do que fui condicionada por todos esses anos. 

Há 1 mês, eu desejava segurança, estabilidade, previsibilidade, por medo... Medo da mudança e do desconhecido. Medo de encarar a realidade diversa e a minha versão perdida no meio.

Empreendi em uma navegação ao oceano do desconhecido, literalmente. O oceano atlântico, um continente desconhecido, um país em branco. Mas também no oceano desconhecido em mim. O descobrimento é certo, mas o que será? Não sei, apenas desejo conhecer, desbravar, compreender. 

Eu quero o novo. 

Eu quero a ousadia dos descobridores portugueses. O comprometimento com o meu Eu, independemente do que eu encontrar. 

Quero o melhor de mim. O melhor do novo. A coragem para mudança. A solidez emocional e material. A sabedoria para trilhar o caminho do meu universo, em que o meu tempo seja bem utilizado e os benefícios compartilhados. 

Quero sair da caverna de Platão, da escuridão, da familiariedade e conforto. 

Quero a luz sob tudo: o feio e o belo.

terça-feira, 10 de maio de 2022

Tempo

Invernos. Impérios. Mistérios. Lembranças. Cobranças. Vinganças

Assim como a dor que fere o peito.

Isso vai passar também.


E todo o medo, o desespero e a alegria. 

E a tempestade, a falsidade, a calmaria 

E os teus espinhos e o frio que eu sinto.

Isso vai passar também.


Saudades.Vaidades. Verdades. Coragem. Miragens

E a imagem no espelho. Como a dor que fere o peito

Isso vai passar também.


(Sandy - Tempo)

Dê-me uma luz

 Deus, 

qual meu propósito? 

eu corro tanto para quê? 

qual a razão de tudo isso? 

por que um caminho tão solitário? 

indica a luz, a direção, a trilha.

porque eu estou triste e sinto-me perdida. 

percebi claramente que não é o lugar, não é o dinheiro

sinto-me um caos. 

é perturbador não ter a quem ou o quê para me amparar. 

consolo-me na esperança de ter um fim. 

de não ter pisado em ninguém. 

de não ter feito mal a ninguém

além de mim mesma. 

domingo, 8 de maio de 2022

I'm tired

Sinto como se eu tivesse iniciado uma maratona em 01/01/2022. 

Uma corrida para chegar em Lisboa o mais rápido possível, 

para reencontrá-lo o mais rápido possível, 

para realizar esse sonho antigo. 

Um semestre difícil, uma corrida íngreme, exigiu muito de mim: emocional, financeiro, físico, mental. 

Agora tão perto da linha de chegada, ainda tenho os obstáculos que fazem de tudo para me derrubar, me fazer desistir, perder a alegria, dissolver meu entusiasmo, desencadeia dúvidas e medos, e mais coisas para planejar. 

Será que valerá a pena passar por tudo isso? 

Meu autosacríficio será recompensado com lágrimas? Não me parece justo.

Sinto o cansaço. Aquele cansaço que bate na última volta da pista, perto do cume, a um passo da linha de chegada. É o genuíno cansaço. 

Não tenho disposições para brigas, para confusões amorosas, para me envolver na teia da complexidade do outro. Não quero entender por ora, nem questionar.

Desejo profundamente o descanso. 

Não quero pensar, não quero planejar, não quero analisar. Quero apenas respirar e contemplar. 

Uma pausa. 

Um freio. 

Um sono. 

Uma paisagem.

Um momento. 

O meu momento.