sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A faca no peito.

Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo.
Adélia Prado

A costura.

De tardezinha vejo minha mãe sentada na sala com a máquina de costura, ela se sente bem com isso, acho que bate a nostalgia, pois minha vó também costurava. Ela fica lá por horas, fazendo cortinas, tapetes para ela mesma.
- Mãe, a senhora pode costurar meus pensamentos rasgados, colocar um botão no meu coração para fechá-lo, emendar meus sentimentos para torná-los grandes, dá um ponto nas minhas lágrimas para nunca mais caírem e me enfeitar de flores de tecidos para eu ficar bonita?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Boa o bastante.

Você sabe que nunca irei ouvir seu conceito comum. Sou imensa e você sabe, também sabe que não vai me deixar para baixo.
E você sente medo.

Epigrama Nº 8

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil,
Fiquei sem poder chorar, quando caí.
Cecília Meireles.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Arte do chá.

ainda ontem
convidei um amigo
para ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo
Paulo Leminski

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Respire e bolhas de água se formam.

Ele: - Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo entendimento, citou Clarice Lispector.
Ela: - Tenho medo de mergulhar em águas profundas.
Ele: - Eu morro de medo também, mas prefiro morrer tentando... parece mais justo, pelo menos aos sentimentos que tanto cativo.
Ela:- Prometo aprender a nadar.

E era tão claro, ele era o salva-vida dela.

sábado, 17 de outubro de 2009

11 pontos.

As lágrimas estão pulsando para cair, a ansiedade as prende.
Sempre quis ser boa em alguma coisa, mas nunca soube em quê,
Encontrar o âmago, a essência, é díficil.
Primeiramente se deve ser bom em matemática;
Depois, saber ler;
Saber da vida;
E saber namorar;
Eu não sei nada disso, por isso só dou voltas em círculo.
O problema: Não gosto da mesmice desse círculo e de nenhum outro.
Por isso em momentos de desespero eu procuro um precipício,
E se não faltar coragem, eu pulo.
De vez enquando me sinto fracassada, nada vai brilhar, desisto.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rainha.

O problema é que ela sabia demais.
Sabia sorrir, brigar, escrever, contar histórias, chorar baixinho e ouvir as melhores músicas.
Além disso ela era linda, linda além da conta, uma mistura de elementos doces, ásperos, cítricos e delicadamente aromatizados. Ela sabia bater o pé, impor suas vontades, perder a compostura e ainda assim manter aquele olhar inexplicávelmente sedutor. Maldito olhar, maldito sorriso.
(Desconheço)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dia dos pequeninos.

Só gostaria de fazer uma prece, já que mal consegui dormir pensando nas crianças desassistidas que não terão um presente para desembrulhar, que Deus ampare e abençoe todos esses anjos sem asas da humanidade e permita que fique intacta as lembranças dos tempos de inocência para aqueles que já cresceram.
Amém.

domingo, 11 de outubro de 2009

O que Deus une o homem não separa.

Na mesa de barzinho fotografei esses coqueiros, sim, como numa orla cheio de pessoas, música alta, muitos papos e vento bom esses coqueiros chamaram minha atenção? Simples, simples. Gostei da luz do poste refletindo nas suas folhas, ficou bonito, ficou loiro. Gostei do vento, os ares fez com que as folhas parecessem cabelos esvoaçando. E, principalmente, a simetria dos dois coqueiros, um do lado do outro, parecendo dois eternos amantes contemplando o nascer do sol de todos os tempos, a imensidão do rio Amazonas, as suaves nuvens pairando sob o mar-céu anil e sentindo o vento infindável daquele lugar. Quanto tempo será que eles estão juntos? Não sei, chuto: Talvez muito tempo. Afirmo: O amor existe e Deus também crer nele. Digo com sorriso nos lábios: Quero um romance ribeirinho igual esse para mim.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Portal dos sonhos.

Abrirei as portas dos sonhos
recomeçarei tudo de novo,
relerei Alice no País das Maravilhas,
pegarei o Yellow Submarine
e visitarei Penny Lane,
brincarei com o espantalho e o homem de lata.
Ta aí, uma boa viagem
Ta aí, uma longa viagem
Ta aí, uma louca viagem.
Abrirei as portas dos sonhos
recomeçarei tudo de novo,
relerei As Reinações da Narizinho,
voarei num objeto não identificado
e visitarei Mr. Apple,
catanaves de um carnaval maluco beleza.
Vai, bate no tambor
vem viver a simplicidade.
Cérebro Eletrônico


Tú corazón, mi corazón.

Meu coração vai batendo devagar como uma borboleta suja sobre este jardim de trapos esgarçados em cujas malhas se prendem e se perdem os restos coloridos da vida que leva. Vida? Buenas, seja lá o que for isto que temos.
Caio f.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Escondo-me na minha flor,
Para que, murchando em teu vaso,
tu insciente, me procures -
Quase uma solidão.
Emily Dickinson

Para todas as coisas.

Para seduzir, olhar.
Para divertir, bobagem.
Para o carro, devagar.
Mas para enfrentar, coragem.

Para acreditar, mentira.
Para discutir, opinião.
Para levantar, sol.
Mas para dormir, colchão.

Para entender, conflito.
Para se ganhar, amigo.
Para deletar, mensagem.
Para o verão, viagem.
Para fofocar, revista.
Para uma dieta, açúcar.
Para distrair, TV.
E para amar, você.

Para encontrar, vontade.
Para atravessar, a ponte.
Para desejar, sorte.
E para ouvir, Marisa.

Para Capitu, Machado.
Para uma mulher, Clarice.
Para Guimarães, Brasil
Na terceira margem do rio.

Para o secador, molhado.
Para o colar, anel.
Para o batom, um beijo
Sempre muito apaixonado.

Para se pintar, espelho.
Para se perder, aposta.
Para dividir, segredo.
Para namorar, se gosta.

Para um biscoito, avó.
Para comprar, essencial.
Para todas as coisas, nó.
E para terminar, final.
Ana Cañas
Depois, querida, ganharemos o mundo!


Minhas asas azar.

Ela estava toda desleixada, pensa: no meio da tarde pegando ônibus com a temperatura de 35ºC ninguém é bonito. Deveria estar às 15hrs no colégio, mas chega na parada às 14:50, com medo de se atrasar mais ainda pega qualquer ônibus, para o azar dela o ônibus pára léguas longe de seu colégio. Então lá vai ela, andando milhas e milhas sob o sol que faz neguinho ficar azul, atravessa sinal aberto, com suas pernas trêmulas de tanto caminhar ela chega ao tão esperado colégio, Deus até deu uma forcinha - quando chegou lá o elevador havia aberto as portas somente para ela. Iria fazer provas de Linguagens no 6º andar, não havia estudado mas estava lá, a inspetora a barrou, seu atraso a fez perder a prova. Ela respirou fundo com olhos cheios de lágrimas, disse: não acredito, não acredito, não acredito, a vida estar de mal comigo. Pensou em ligar para a mãe e avisar que estava cansada e se ela poderia buscá-la, mas lembrou que quando saiu de casa sua mãe estava no salão de beleza e que não sabia o número novo do celular dela. Não teve jeito. Ela voltou caminhando com malemolência para a parada de ônibus, passa na frente da igreja e faz o sinal da cruz. Pega o ônibus que normalmente vai vazio naquele horário, mas o mundo estava em caos, estava lotado. Por fim das contas, ela chega em casa e não tem coragem de sair novamente e ir até o cursinho para assistir a aula de História que ela tanto gosta, e dorme até o outro dia pra curar a porrada que o mundo a deu, alguém a pregou uma peça e ela caiu.

domingo, 4 de outubro de 2009

Monet.

Estou ouvindo música. Debussy usa as espumas do mar morrendo na areia, refluindo e fluindo. Bach é matemático. Mozart é o divino impessoal. Chopin conta a sua vida mais íntima. Schoenberg, através de seu eu, atinge o clássico eu de todo o muno. Beethoven é a emulsão humana em tempestade procurando o divino e só o alcançando na morte. Quanto a mim, que não peço música, só chego ao limiar da palavra nova. Sem coragem de expô-la. Meu vocabulário é triste e às vezes wagneriano-polifónico-paranóico. Escrevo muito simples e muito nu. Por isso fere. Sou uma paisagem cinzenta e azul. Elevo-me na fonte seca e na luz fria.
Clarice Lispector.


Ah felicidade!

Eu tentei evitar, liguei a tevê e deitei no sofá, desde que haja tempo pra sonhar e assuntos pra desenvolver. Não é muito fácil desligar, me dá pena do meu chinês. Por ele eu passava o dia inteiro a meditar. Bebendo chá verde ele me diz: "Fica feliz que vai funcionar."
Mas eu tô feliz, eu juro pelo meu irmão. O saldo final de tudo foi mais positivo que mil divãs. Por isso que não adianta querer julgar, é cada um por si na sua própria bolha de ar. Mas o que eu penso mesmo é encontrar alguém que me dê carinho e beijo, e me trate como um nenêm, me trate muito bem.
Ah, eu só quero amor, seja como for o amor. Seja bom, seja bom, Seja bom, seja amor. Me faz mais feliz, me dá asas pra fluir e cantar o amor.
Tiê - Chá verde.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

02/10 Primavera chega.

Hoje de manhãzinha saí, dei uma volta e sentei na calçada de uma praça, como boa cidade nortista há sempre muitas árvores e fiquei assim, na frente do rio Amazonas sob a sombra de uma bela palmeira, ou uma mangueira, e fiquei olhando, olhando, olhando, olhei atrás de mim e havia a OAB e orgulhosa disse: ''essa arquitetura é neoclássica!'' E pelos galhos o sol tatuava minha pele com formas geométricas.

Quanta belezura, Senhora Primavera, sejas bem-vinda! E agradeço pela gentileza e por apaixonadamente bateres em minha porta!


Epifanias urbanas.

Preciso de um banho, mas aquele banho para acordar mesmo, esfregar o sabão até ralar a pele, até o branco ficar vermelho. Andei o dia todo na rua, observando, tateando e pensando nas coisas, nada especifico, somente nas coisas. Tateando os postes, observando aquele vestido da mulher que acabara de sair do banco, pensando naquele homem que dirigia um carro importado e como seria sentir o gosto dos seus lábios tão rosa e pêlos tão claros roçando na minha pele, talvez eu tenha me apaixonado, uma paixão que havia durado 15 minutos. E quando eu dou voltas em alamedas assombrosas e vejo cachorros abandonados, essas coisas feias e tristes que não são importantes se tornam obras de arte para mim, vejo profundidade, essas coisas parecem falar, nada é o que parece. Vi um apê de dois andares, o primeiro andar deve ter sido algum negócio que faliu e alguém morava em cima, era uma varanda tão pequenina, havia uma porta e uma janela gradeada e fechada, havia no canto um vaso com uma planta mal cuidada, uma cadeira de balanço e um cachorro que parecia estar velho. Esteticamento era feio, abandonado, mas me deu uma vontade grande de morar alí, queria aquela simplicidade para mim, aquilo era tão terno. Me imaginei abrindo aquela janela para o vento e a sorte entrar. Apesar de todos os meus problemas, defeitos e sujeiras, alguma coisa me diz que eu levaria bons fluídos para alí.

É tão engraçado. Saío assim pelas ruas, me apaixonando e esquecendo, imaginando e me despedindo, assim mato minha sede. Fico me perguntando: será que isso é normal? Ou eu tenho uma mente esquizóide? No fundo não quero saber a resposta. Essas pequenas aventuras é que me faz uma pequena... uma pequena pensadora, coisa ridícula. Mas de qualquer forma, preciso de um banho. Banho para acordar, banho para voltar ao meu rumo senso-comum sem fim. Banho para lavar pensamentos e cabelos.