domingo, 26 de abril de 2009

A loucura a pertence.

Não compreendem e tiram meras conclusões da mais comum loucura, satisfazem-se com isso. Deplorável. Eximo saliva, pois já tenho muito que deglutir.

Del Castilo, Elza.

domingo, 19 de abril de 2009

Retrato.


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?
Cecília Meireles



quarta-feira, 15 de abril de 2009

Jeito de Mato

De onde é que vem esse olhos tão tristes?
Vem da campina onde o sol se deita.
Do regalo de terra que o teu dorso ajeita.
E dorme serena, no sereno e sonha.

De onde é que salta essa voz tão risonha?
Da chuva que teima, mas o céu rejeita.
Do mato, do medo, da perda tristonha.
Mas, que o sol resgata, arde e deleita.

Há uma estrada de pedra que passa na fazenda.
É teu destino, é tuda senda, onde nascem com as canções.
As tempestades do tempo que marcam tua história.
Fogo que queima na memória e acende os corações.

Sim, dos teus pés na terra nascem flores.
A tua voz macia aplaca as dores.
E espalha cores vivas pelo ar.

Sim, dos teus olhos saem cachoeiras.
Sete lagoas, mel e brincadeiras.
Espumas, ondas, águas do teu mar...
Paula Fernandes
Guarde este recado: Alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.
Caio F.

É alí, é alí!

Me explica, que às vezes tenho medo. Deixo de ter, como agora, quando o vento cessa e o sol volta a bater nos verdes. Mesmo sem compreender, quero continuar aqui onde está constantemente amanhecendo.
Caio F.

Assim que és...

"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será comprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és...''
Caio Fernando Abreu.

É preciso não esquecer nada.

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
Cecília Meireles

terça-feira, 14 de abril de 2009

Tu me chamas.

Em momentos de delícia,
Extática, embevecida,
Numa voz, toda carícia,
Tu me chamas: "Minha vida!"

Sentira, à frase tão doce,
Exultar-me o coração,
Se a nossa existência fosse
De perpétua duração.

Levam-nos esses momentos
Ao fim comum dos mortais.
Ou não saiam tais acentos
Dos lábios teus nunca mais,

Ou, mudando a frase terna,
"Minha alma", podes dizer.
Pois a alma não morre; eterna
Qual o meu amor, há de ser.
Lord Byron

Memória.

Minha família anda longe,
com trajos de circunstância:
uns converteram-se em flores,
outros em pedra, água, líquen;
(...)
Cecília Meireles

Hora grave.

Quem agora chora em algum lugar do mundo,
Sem razão chora no mundo,
Chora por mim.

Quem agora ri em algum lugar na noite,
Sem razão ri dentro da noite,
Ri-se de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
Sem razão caminha no mundo,
Vem a mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
Sem razão morre no mundo,
Olha para mim.
Rilke

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?


Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho
Comigo perdes tu o teu sentido.

Depois de mim não terás um lugar
Onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
As sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
Teu olhar que em minhas pálpebras,
Como num travesseiro,
Ardentemente recebo,
Virá me procurar por largo tempo
E se deitará, na hora do crepúsculo,
No duro chão de pedra.

Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.
Rilke

domingo, 12 de abril de 2009

12 de Abril.

Velas, bolos, refrigerantes, música, gente boa, família...
Mas o que aconteceu? O que aconteceu com meu aniversário? Comigo...
Esse é um dos dias que você acorda mas na verdade não acorda. Entende? Você fica vagando como se fosse um fantasma. Essa ausência de sensações acaba com os meus dias, principalmente hoje. Deve ser o horoscópo - arianos são imprevisíveis, o tempo frio, o domingo. Aliás, hoje deveria sentir-me mais viva pois hoje é Páscoa, dia da ressurreição, bem... Meu ânimo mesmo assim não muda. Mas continuo achando o 12 um belo número e o mês de Abril o melhor de todos.

Enfim, envelheço na cidade.

Elza Del Castilo.